Eu
gosto das suas mãos em mim, das suas mãos no mouse, das suas mãos em tudo. Das
suas mãos de artista cheias de robustez e delicadeza. Gosto da maneira
cuidadosa com que faz tudo, você lida tão bem com cabos que me dá inveja.
Conecta um com o outro e pronto! Enquanto eu ainda estou me atrapalhando pra
trocar as pilhas do controle remoto. “Deixa que eu faço”, detesto quando diz
isso, me salvando das minhas duas mãos esquerdas. É sempre uma mistura de ódio
com alívio. Você corta a pizza, você é melhor que eu pra isso – eu admito. Tem
um cuidado pras coisas que a minha natureza desastrada não tem, quem dera ter.
Acho que nos completamos bem assim, enquanto eu contenho as águas dos buracos
da alma, você coloca o lixo pra fora – literalmente! Enquanto eu fico fazendo reflexões pra
escolher um filme, me demorando com aquelas brincadeiras de “vai lá, vou fechar
o olho o que escolher tá escolhido”, faço mil vezes até eu escolher de verdade
– enquanto isso – você já abriu as cervejas, pediu a comida e está sentado, pacientemente,
me esperando fazer qualquer coisa simples que eu sempre insisto em levar horas.
Mas sabemos que o meu cuidado detalhado nos protege de muito e a sua
praticidade resolvida também. Afinal, o que seria do sol objetivo sem toda
aquela bagunça de cores do entardecer? (Mani Jardim - trecho de A Fresta de Minha Fossa Abissal)
"Quando aparecem as pernas branquinhas e delicadas, as unhas impecáveis e os cabelos pretos brilhantes eu me sinto a Gata Borralheira. Pois é querido, eu não sou assim – dessas que fazem o tipo impecável, “mulher de médico”, que saem de casa de branco e voltam com a mesma tonalidade. Eu sou de Verão. Sim. Eu subo a serra, tenho os cabelos queimados do sol, sou bruta e de natureza quente. Falo mais do que devo quando estou nervosa e calo mais do que devo quando estou impressionada. Eu sou pra lambuzar os lábios e me comporto como um rinoceronte em uma loja de cristais. É sim, exatamente assim que sou. O bônus do meu grunge é a minha simplicidade, mas - calma baby - todo bônus tem um ônus e o meu é pura rusticidade. Se você não consegue ver beleza nas casas coloridas de Parati, se só se apaixona pelo modernismo bem cuidado de Niemayer esqueça, pois pra você eu sou muito feia." (Mani Jardim)