Eu
gosto das suas mãos em mim, das suas mãos no mouse, das suas mãos em tudo. Das
suas mãos de artista cheias de robustez e delicadeza. Gosto da maneira
cuidadosa com que faz tudo, você lida tão bem com cabos que me dá inveja.
Conecta um com o outro e pronto! Enquanto eu ainda estou me atrapalhando pra
trocar as pilhas do controle remoto. “Deixa que eu faço”, detesto quando diz
isso, me salvando das minhas duas mãos esquerdas. É sempre uma mistura de ódio
com alívio. Você corta a pizza, você é melhor que eu pra isso – eu admito. Tem
um cuidado pras coisas que a minha natureza desastrada não tem, quem dera ter.
Acho que nos completamos bem assim, enquanto eu contenho as águas dos buracos
da alma, você coloca o lixo pra fora – literalmente! Enquanto eu fico fazendo reflexões pra
escolher um filme, me demorando com aquelas brincadeiras de “vai lá, vou fechar
o olho o que escolher tá escolhido”, faço mil vezes até eu escolher de verdade
– enquanto isso – você já abriu as cervejas, pediu a comida e está sentado, pacientemente,
me esperando fazer qualquer coisa simples que eu sempre insisto em levar horas.
Mas sabemos que o meu cuidado detalhado nos protege de muito e a sua
praticidade resolvida também. Afinal, o que seria do sol objetivo sem toda
aquela bagunça de cores do entardecer? (Mani Jardim - trecho de A Fresta de Minha Fossa Abissal)
Sinto-me como um equilibrista em seus primeiros meses de treino. Caio, levanto, depois caio novamente. Não é fácil. Na verdade, é bem difícil treinar um novo andar, um andar em duas pernas. O mundo segue, os problemas chegam e ninguém espera você aprender a ser singular. Mas, com o tempo, as luzes apagam e acendem e você começa a gostar mais desse novo estar. Como uma peça de quebra-cabeça que ainda não se encaixou completamente, mas está perfeitamente posicionada no seu vazio ideal, na porta de entrada da sua própria caverna interior! Você olha pra dentro e percebe que, de verdade, você nunca esteve ali. Não assim, tão entregue, tão livre, com tanto tempo pra perder. Tem tantas coisas para arrumar, mas você caminha aos poucos... Coloca um vaso de flor na janela dos olhos, uma nova toalha na cortina da alma. E assim segue... Com uma felicidade tímida no canto do rosto e uma estranheza gostosa, como quando acaba de desencaixotar a mudança. Se distrai um pouco e inesperadament