Pular para o conteúdo principal

Rabiscos


Sinto-me como um equilibrista em seus primeiros meses de treino. Caio, levanto, depois caio novamente. Não é fácil. Na verdade, é bem difícil treinar um novo andar, um andar em duas pernas. O mundo segue, os problemas chegam e ninguém espera você aprender a ser singular. Mas, com o tempo, as luzes apagam e acendem e você começa a gostar mais desse novo estar. Como uma peça de quebra-cabeça que ainda não se encaixou completamente, mas está perfeitamente posicionada no seu vazio ideal, na porta de entrada da sua própria caverna interior! Você olha pra dentro e percebe que, de verdade, você nunca esteve ali. Não assim, tão entregue, tão livre, com tanto tempo pra perder.  Tem tantas coisas para arrumar, mas você caminha aos poucos... Coloca um vaso de flor na janela dos olhos, uma nova toalha na cortina da alma. E assim segue... Com uma felicidade tímida no canto do rosto e uma estranheza gostosa, como quando acaba de desencaixotar a mudança.  Se distrai um pouco e inesperadamente nota que já dá até pra pular com um pé só! Olha para os lados e percebe que não tem mais volta: você mudou! Você, definitivamente, se mudou! 

(Mani Jardim - trecho de A Fresta de Minha Fossa Abissal)  

Postagens mais visitadas deste blog

Meu ciganismo..

"Quando aparecem as pernas branquinhas e delicadas, as unhas impecáveis e os cabelos pretos brilhantes eu me sinto a Gata Borralheira. Pois é querido, eu não sou assim – dessas que fazem o tipo impecável, “mulher de médico”, que saem de casa de branco e voltam com a mesma tonalidade. Eu sou de Verão. Sim. Eu subo a serra, tenho os cabelos queimados do sol, sou bruta e de natureza quente. Falo mais do que devo quando estou nervosa e calo mais do que devo quando estou impressionada. Eu sou pra lambuzar os lábios e me comporto como um rinoceronte em uma loja de cristais. É sim, exatamente assim que sou. O bônus do meu grunge é a minha simplicidade, mas - calma baby - todo bônus tem um ônus e o meu é pura rusticidade. Se você não consegue ver beleza nas casas coloridas de Parati, se só se apaixona pelo modernismo bem cuidado de Niemayer esqueça, pois pra você eu sou muito feia."  (Mani Jardim)

...

“Ressinto-me de minha rebeldia, de minha revolta gratuita. Sou assim desde pequena, o bebe que não aceitava presilhas no cabelo. Cuja primeira palavra foi um sonoro e pontual: NÃO! Sei que preciso aprender a lidar com as cortinas da vida, mas minha terapia evolui “a passos de formiga e sem vontade”, porque gosto de ir parando no caminho. Eu que já personifiquei admito a minha sensibilidade excêntr ica, mas, acima de tudo, a minha ambição espiritual. Gosto de fidelizar sensações e escrevo para dizer que não me canso. Escrevo para afirmar, de forma cansativa, a minha persistência em ser incansável. As palavras que saem de mim não são verdades absolutas, não são teorias cientificas capazes de resolver equações complexas, tampouco trazem a cura de qualquer cólera vagabunda. Não! São sentimentos em ebulição, em busca de uma simbiose qualquer. Para o outro talvez sejam palavras sem a menor inter-relação, mas- para mim- são sangradas da alma. Reagem ao meu entusiasmo, transf...
Eu sou alguém que se mudou, ainda não sei bem pra onde. Às vezes temo ter me mudado de mim mesma, me sinto distante, não só dos meus, mas também das minhas... das minhas manias, das minhas alegrias, das minhas pedaladas, enfim, talvez das minhas gargalhadas. Estou buscando o caminho de volta, mas me perdi, não sei mais por onde seguir, penso que tem caminhos que a vida toma que transformam os antigos e, talvez, não tenha volta. O tempo passa, a vida muda... e é possível que eu tenha me mudado de mim e tenha me perdido em uma floresta grande e sem nada que faça com que eu me reconheça.  (foto: https://wallhere.com/)