...
Subitamente pôs-se a guiar com agressividade. No caminho,
despiu todas as peças que não lhe pertenciam mais. Retirou a calça, a camisa e
esfregou a face para que os lábios voltassem a empalidecer, como de costume.
Rompeu o silêncio com um grito rouco e fraco. Tornou a gritar,
cada vez mais alto.
Com as rédeas firmes,
acelerou o passo. Recrudescendo ao seu ciganismo.
Aos poucos a impermeabilidade foi enfraquecendo, o raiar do
dia despertou um sorriso tímido, sem dentes, mas sincero.
Nua e completa ela aquietou-se, pois toda eternidade estava
ao alcance “daqueles olhos de cigana oblíqua e dissimulada”.
(Mani Jardim - trecho
de A Fresta de Minha Fossa Abissal)