Ontem, quando soube da notícia da
morte do ator Robin Willians, ou melhor, quando eu soube da forma como o ator
morreu (porque a morte choca, mas é uma condição da vida, já a maneira como ela
vem é que nos deixa realmente surpresos), fiquei assustada. Acredito que 90%
das pessoas o associavam a um sentimento bom, de amor e, sobretudo de alegria. Li
muitas mensagens: “seus personagens me trouxeram tanta felicidade...”. Mas por
algum motivo a alegria que transmitia não era suficiente para si mesmo. É como
o conto do palhaço triste ou como o ferreiro que em sua casa utiliza apenas
espetos de pau. É complicado. Todavia, ao que me parece, a sociedade está
caminhando para uma “versão inversa do seu verdadeiro eu”. Pior ainda do que o
autor que pelo menos foi sincero em muitas declarações, mas caminhando para o
mesmo fim, a sociedade do espetáculo, que deu origem à sociedade da exposição,
abastece constantemente seus aparatos com sorrisos, pratos formidáveis,
paisagens estonteantes... é tanta “felicidade” que parece não caber nas
timelines das redes que se multiplicam a cada dia. O dia ruim, o ponteiro da
balança que subiu, a tristeza sem motivo, o desapontamento que soa como soco no
estômago – não estão lá. Mas onde estão? Não existem? É como se houvesse um
slogan oculto dizendo: “publique seus momentos felizes e se não houver
interprete-os”. Esses dias uma amiga postou uma foto sorrindo com uma frase de
absoluta felicidade, apenas uns poucos, mais próximos, sabiam que na verdade ela
estava vivendo um momento de profunda tristeza. Mas será que camuflar tristeza
com felicidade, alegrar a plateia a qualquer custo – ignorando o momento de
reclusão é saudável? Sim eu sei da Lei da Atração, sei que dizer coisas boas
atrai coisas boas, mas será que, às vezes, um simples pedido de ajuda não divide
o interim entre a vida e o suicídio?
(Mani Jardim)