Hoje eu deitei no sofá, com um pote de cerejas e sem
chinelos – como quem deita com tempo e dedicação ao tédio. Embora, o relógio
estivesse sugerindo que voltasse ao trabalho eu me permiti aquele momento.
Como num divã, pus-me a analisar a vida, a minha vida!
Experimentei a experiência de “quase morte”, aquela em que se afasta para
observar o todo com equidistância. Vi tantas imperfeições ali, vi uma menina
assustada e cheia de bloqueios. Mas, que ao mesmo tempo, quer mais da vida. Vi
uma menina que se nega a assumir o papel de mulher e se apega com força as suas
meninices e me certifiquei da ideia quando saltou dos fios um ponto vermelho,
uma presilha de laço com bolinhas amarelas. Sim, aquela era mesmo eu, Mani Jardim,
uma mistura de cores vibrantes, um olhar distante e uma criação de borboletas
azuis no estomago.
Eu era eu e mais ninguém. Ainda me adaptando a “solteirice”
e cheia de planos e metas singulares. Camuflando uma vontade atrevida de me
apaixonar novamente. Ali estava eu, entregue como uma folha seca que despencou
da árvore para seguir as intempéries do vento. Ainda com algumas contestações pendentes, fui interrompida pelo relógio e voltei, mais lúcida e esclarecida!